Vale a Pena Tirar Certificações Profissionais? Uma Análise Crítica do Valor das Certificações no Desenvolvimento de Carreira

Pra quem não sabe, a pouco tirei a minha primeira certificação. Após a emoção e a ansiedade por causa da prova passar, comecei a refletir sobre quando vale a pena ou não tirar uma certificação e por isso te chamo hoje para esse bate papo. O mercado de tecnologia está em constante transformação, com novas ferramentas, linguagens e arquiteturas surgindo em ciclos cada vez mais curtos. Esse dinamismo exige atualização contínua, e as certificações surgem como uma forma estruturada e reconhecida de acompanhar essa evolução e por isso frequentemente apontadas como diferenciais competitivos no mercado de trabalho.

Segundo o relatório do World Economic Forum (2023), até 2027, mais de 50% da força de trabalho global precisará de requalificação. Nesse cenário, as certificações aparecem como uma das vias mais comuns para promover essa transição.Porém, muitos profissionais ainda se perguntam: vale a pena investir em uma certificação? Isso irá ajudar a alavancar minha carreira?

Mesmo sendo uma entusiasta do estudos, a minha resposta — como meus alunos sabem bem — é: depende! Depende do seu momento de carreira, da área de atuação, dos seus objetivos e até mesmo da cultura da sua empresa. Não existe uma resposta correta que vale para todos os casos.

E acabou o artigo...

Brincadeira a parte, vamos analisar juntos a situação de forma geral. O objetivo é fornecer subsídios para profissionais tomarem decisões mais conscientes sobre sua formação continuada.

O que são certificações e por que elas ganharam relevância?

Certificações são validações formais de conhecimento concedidas por instituições reconhecidas — como Microsoft, AWS, Google Cloud, Oracle, entre outras. Elas são desenvolvidas com base em frameworks consolidados, boas práticas de mercado e objetivos de aprendizagem bem definidos. Segundo relatório da Global Knowledge (2023), 92% dos profissionais certificados sentem-se mais confiantes tecnicamente após obterem uma certificação, e 67% relatam aumento de produtividade direta no trabalho.

As certificações tornaram-se uma forma prática de:

• Validar conhecimentos técnicos rapidamente

• Aumentar a empregabilidade

• Diferenciar profissionais em processos seletivos

• Criar trilhas de aprendizagem para times de tecnologia

• Estimular uma cultura de aprendizagem contínua

Segundo Marconi e Lakatos (2017), as certificações podem ser analisadas sob a ótica da sociologia da educação como instrumentos simbólicos de validação e mobilidade social.

A ascensão de microcertificações (ou microcredentials) foi destacada em 2022 pelo relatório da OECD como uma tendência emergente no ensino técnico e superior, especialmente em resposta às demandas por formação rápida em habilidades digitais (OECD, 2022).

As certificações podem ser classificadas como:

• Técnicas ou Profissionais: voltadas para habilidades práticas (ex: Microsoft, AWS, PMI, Oracle).

• Acadêmicas: como as pós-graduações lato sensu, que também podem fornecer títulos certificados.

• Normativas e de Conformidade: como as da ISO (International Organization for Standardization).

• Setoriais: como certificações em áreas reguladas (ex: mercado financeiro, saúde).

  
  

Mas, como tudo na vida, existem prós e contras.

Prós das certificações em tecnologia

1. Validação objetiva do conhecimento

Em processos seletivos técnicos certificações funcionam como um selo de validação objetiva, principalmente quando não há tempo hábil para testes práticos longos. Segundo a Pearson VUE (2021), 61% dos empregadores usam certificações como critério para decisões de contratação ou promoção.

2. Direcionamento de estudo estruturado

Certificações oferecem trilhas de conhecimento organizadas, economizando tempo com curadoria de conteúdo. Isso é essencial para profissionais em transição de carreira ou que buscam uma especialização sem acesso direto a mentores ou formação formal.

3. Acesso a comunidades e recursos exclusivos

Algumas certificações oferecem acesso a comunidades de prática, descontos em eventos, conteúdos exclusivos, e eventos que possibilitam o contato com comunidades técnicas, além de versões beta de ferramentas — fatores que mantêm o profissional inserido na fronteira tecnológica.

4. Visibilidade profissional

Publicar certificações em redes como o LinkedIn amplia o alcance do seu perfil e melhora o posicionamento em mecanismos de busca de recrutadores. Um estudo do LinkedIn Learning (2022) mostra que profissionais certificados recebem 6 vezes mais visualizações de perfil do que os não certificados.

5. Vantagem competitiva em empresas B2B

Se a empresa onde você atua presta serviços para outras organizações (modelo B2B), possuir profissionais certificados pode acelerar a alocação em projetos, já que clientes frequentemente exigem ou valorizam equipes com competências comprovadas. Além disso, empresas com quadros certificados aumentam sua credibilidade no momento de vender serviços.

6. Aumento de salário

As certificações também podem afetar significativamente o seu salário, pois você se torna mais atrativo ao mercado. Segundo CRABTREE (2024), os profissionais do AWS Certified Solutions Architect - Associate podem receber um salário médio de US$ 122.000 por ano, enquanto um Certified Cloud Security Professional pode receber cerca de US$ 124.000 por ano e segundo Global Knowledge (2021), profissionais certificados em TI recebem, em média, salários 12 a 22% maiores do que seus pares não certificados.

7. Reconhecimento internacional

Certificações como PMP, ITIL, CISSP, TOGAF, entre outras, são reconhecidas globalmente e funcionam como uma espécie de “moeda profissional internacional”. Isso é particularmente relevante em processos de mobilidade internacional ou atuação como consultor global.

Contras e limitações das certificações

1. Não garantem experiência prática

Ter uma certificação não é sinônimo de domínio técnico. Muitos profissionais obtêm bons resultados em provas, mas nunca atuaram em contextos reais. Isso se reflete em entrevistas técnicas e na resolução de problemas em produção. O ideal é complementar o estudo com labs práticos, simulação de projetos reais e documentação dos aprendizados, como sugere a Cloud Academy (2023). Críticas recorrentes apontam que algumas certificações privilegiam provas objetivas ou simulações artificiais, em detrimento de experiências reais ou resolução de problemas práticos.

2. Obsolescência acelerada

A maioria das certificações exige atualização periódica. O ciclo de vida das tecnologias tem se tornado cada vez mais curto: segundo a IDC (2023), 75% das certificações técnicas precisam de revisão em até 18 meses após sua emissão para se manterem relevantes.

3. Custo e tempo de preparação

Algumas certificações podem custar centenas de dólares (ex: exames PMP ou AWS custam entre US$ 200 e US$ 600), além do investimento em cursos preparatórios, livros e simulados. Em um cenário de autogestão de carreira, isso pode ser um fator limitante — especialmente em países da América Latina, onde a conversão cambial encarece ainda mais o processo.

4. Foco exagerado na “coleção de badges”

Acumular certificados sem consolidar o conhecimento técnico é um erro comum. Isso pode gerar um perfil artificialmente qualificado, mas sem profundidade, o que rapidamente é exposto em entrevistas ou durante projetos reais.

Diploma vs certificações: qual é mais importante?

O diploma oferece uma base ampla e mais genérica sendo extremamente valorizada pelas empresas enquanto as certificações focam em habilidades ou em ferramentas especificas. Isso significa que mesmo com uma certificação nada certifica que aquele profissional viu, alguma vez no dia, conceitos básicos da área.

Quando escolher um ou outro?

Isso vai depender exatamente do seu momento - Você está começando a entender porque disse que meus alunos sabem bem que minha resposta é depende! - Se você tiver no inicio de carreira, foque no diploma, se possível e faça certificações como coisas complementares. Agora se você já tiver diploma ou se tiver em transição de carreira, foque em certificações.

O que o mercado espera: certificação ou experiência?

Na prática, as empresas esperam profissionais que entreguem resultados. Isso inclui:

• Proficiência técnica com profundidade e contextualização

• Capacidade de aprender novas tecnologias rapidamente

• Experiência prática com projetos reais

• Comunicação clara, pensamento crítico e trabalho em equipe

As certificações funcionam como um facilitador de entrada e um sinal de comprometimento com o aprendizado, mas dificilmente substituem a prática consistente e a resolução de problemas complexos em ambientes reais. Profissionais com certificações, mas sem experiência, enfrentam desafios na aplicação prática.

O equilíbrio entre habilidade demonstrada e validação formal parece ser a chave.

Estudos longitudinais do MIT Sloan (Arora et al., 2021) mostram que certificações têm maior impacto na carreira entre 2 e 5 anos de experiência, diminuindo a partir daí, quando a trajetória profissional fala por si só.

Quando Vale a Pena Investir em Certificações?

Podemos dizer que existe 4 casos em que vale a pena investir nas certificações:

• Transição de Carreira: quando o profissional deseja mudar de área, uma certificação pode facilitar o reposicionamento.

• Mercados Altamente Regulados: como finanças, saúde, direito ou cibersegurança, onde há exigência formal de certificações.

• Requisitos Corporativos: algumas empresas exigem certificações para promoções ou participação em projetos estratégicos.

• Aprendizagem Estruturada: profissionais que aprendem melhor com cronogramas definidos e metas claras podem se beneficiar do formato das certificações.

  
  

Decidi que vou tirar certificação, como estudar para ela?

Em primeiro lugar estude através dos materiais oficiais e simulados, fornecidos pelas instituições de certificação. Sempre que possível pratique o conteúdo estudado, pois a melhor forma de fixar um conhecimento é utilizando ele. Participe de comunidades de tecnologia que tem haver com a área que você trabalha ou quer trabalhar, assim você poderá sempre tirar dúvidas e saber quais as certificações parece ser melhor naquele momento.

Como escolher a certificação certa?

A escolha da certificação vai depender de alguns quesitos - Na terceira vez acho que já posso pedir musica no Fantástico, não é?

A certificação deve estar alinhada com o seu objetivo, nível de experiência e também nível de reconhecimento e requisição pelo mercado. Não adianta ter 50 mil certificações com cada uma olhando para uma parte da TI, quem sabe tudo, não é especialista em nada!

Vamos juntos decidir uma certificação para uma pessoa com o seguinte perfil: Ela está em inicio de carreira na área de Data Science e olhando o mercado e a sua empresa ela verificou que os serviços de Cloud estão sendo mais requisitados. Então por logica, ela deveria escolher primeiro a certificação básicas da Microsoft, AWS ou Google. O que vai fazer ela decidir entre uma das 3 vai ser o direcionamento da empresa, ou seja, qual é o maior uso da empresa ou com quem ela tem parceria. Um outro ponto é mercado, se ela está na área bancaria e a maioria utiliza um determinado fornecedor, exemplo AWS, então faz mais sentido ela focar nas certificações da AWS.

A escolha da certificação ideal depende dos seus objetivos e da área em que deseja atuar. Se você é iniciante, pode começar por certificações mais generalistas, como a PCAP para Python ou a certificação de Java da Oracle. Se já tem alguma experiência, aposte em certificações mais avançadas, como as de nuvem (AWS, Azure, Google Cloud) ou de segurança (CompTIA Security+). Rocketseat (SN)

Tendências e o Futuro das Certificações

Certificações baseadas em projeto (project-based credentials)

Plataformas como GitHub, Kaggle e HuggingFace vêm sendo usadas como alternativas para validação de habilidades em ciência de dados e IA. O projeto real substitui o exame formal, com código aberto, reprodutibilidade e impacto direto.

Portfólios interativos e verificação por blockchain

Empresas como Credly, Open Badges e Coursera estão usando blockchain para certificar a validade e autoria de certificações. Isso evita fraudes e facilita o compartilhamento de credenciais em redes sociais e sistemas corporativos.

Integração com inteligência artificial

Ferramentas como ChatGPT, Copilot e Gemini estão mudando a forma como os profissionais aprendem e trabalham. Certificações que não incluírem habilidades de prompt engineering, uso ético de IA e automação de tarefas cognitivas estarão rapidamente defasadas (Liu et al., 2024).

Conclusão

Certificações são ferramentas estratégicas no desenvolvimento profissional, mas não absolutas. Elas abrem portas, dão visibilidade e estruturam o aprendizado. No entanto, devem ser acompanhadas de prática intencional, experiência aplicada e desenvolvimento contínuo do Human skills.

Não basta ter um selo. É preciso saber o que ele representa, como foi conquistado e o que efetivamente contribuiu para a competência profissional.

Certificação é meio, não fim. Use-a como trampolim, não como troféu.

Referências

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